Não saber a espessura das cordas de guitarra que se deve usar é como não saber o número que se calça. Muitos guitarristas procuram as soluções para o seu tom em amplificadores e pedais de efeitos, quando o problema está literalmente nas mãos deles: nas cordas.
Escolher o calibre adequado de um conjunto de cordas é fundamental para o som e para a técnica de cada guitarrista. Não basta só mudá-las regularmente e ter um bom setup na guitarra, é preciso que sejam as indicadas para o estilo pessoal de cada um. Mas como escolher?
As ideias neste artigo aplicam-se principalmente às cordas para guitarra elétrica, porque há outras questões nas acústicas.
Cordas à medida
Quando olham para a embalagem de um conjunto de cordas, vêem uns números escritos, como .009 ou .011. Essa é a espessura da corda do Mi agudo, e é a partir daí que sabemos que tipo de conjunto de cordas estamos a comprar. As medidas mais comuns são:
– extra super light: .008 .010 .015 .021 .030 .038
– super light: .009 .011 .016 .024 .032 .042
– light: .010 .013 .017 .026 .036 .046
– medium: .011 .015 .018 .026 .036 .050
– heavy: .012 .016 .020 .032 .042 .054
Quanto mais finas, mais leves são. Quanto mais grossas…adivinhem?
E qual é a diferença entre cordas “leves” e “pesadas”?
Leves
Os conjuntos de cordas de menor calibre, mais finas, são mais maleáveis e fáceis de tocar, mas como têm menos massa, produzem menos volume. Como criam menos tensão no braço, podem trastejar mais, especialmente numa guitarra mal preparada. Por serem mais finas, têm tendência a partir mais depressa.
Pesadas
Por serem mais grossas e provocarem uma maior tensão, são mais difíceis de tocar, forçam muito mais a mão, mas geram mais volume e sustain. Para quem toca em afinações mais graves são muito mais estáveis, e são indicadas para quem toca slide guitar, por exemplo. Mas se estão a pensar fazer solos com elas, é melhor comerem um belo bife antes de cada concerto.
Som
Vamos para a parte periclitante da questão: cordas mais grossas dão melhor som ou não? E o que é um melhor som?
Como dissemos, cordas mais grossas geram mais volume, porque têm mais massa, logo um campo magnético maior que afeta os pickups. Em guitarras a questão do campo magnético não se aplica mas todas as outras sim.
Como já falámos anteriormente, o som da vossa guitarra começa nas vossas mãozinhas. Sim, querem mais volume e sustain no vosso som, mas se não conseguem pisar as cordas em condições e estão no limiar da tendinite, se calhar um conjunto .011 não é a vossa melhor escolha, porque nunca vão conseguir ser fisicamente consistentes em todas as notas que derem. Se há demasiada resistência, mudem de plano. Neste caso, de calibre.
Um conjunto mais leve, com as suas características, é óptimo para músicos mais expressivos, solistas, e que dispensam a tensão extra de umas cordas mais pesadas.
Isto não quer dizer que as cordas mais pesadas são para powerchords. Se forem umas flatwound, ou seja, lisas, são muito boas para tocar jazz porque dão aquele tom gordo e bem definido a toda a escala. Se afinam a guitarra em tons mais graves, os conjuntos mais pesados dão maior estabilidade na afinação, e mantêm uma tensão que se perde se baixarem a tonalidade de um conjunto de calibre mais fino.
Há uma solução alternativa, que são os conjuntos de cordas mistos, com espessuras mais baixas nas cordas agudas e mais altas nas cordas mais graves. Para quem toca em Drop D ou menos e gosta de solar é um excelente compromisso.
“Ah, mas os gajos dos blues tocam com cordas tão grossas que parecem cabos de navio!” Pois, que gajos dos blues? O Chuck Berry tocava com cordas tão finas no Johnny B. Goode, que nem de guitarra eram, eram de banjo. O Stevie Ray Vaughan lançou o mito que tocava com .013 (?!?!?) mas era o Stevie, deus da guitarra com um estilo tão particular que o que servia para ele provavelmente não servirá para os comuns mortais. E ele tocava com guitarras diferentes com calibres diferentes.
Os clássicos muitas vezes tocavam com cordas mais grossas para poderem ter aquele tom mais pesado, mas à medida que os blues se eletrificaram e os sistemas de amplificação melhoraram, deixou de ser necessário recorrer a elas. O B.B. King usava .010, assim como o Buddy Guy, o Eric Clapton, e o Gary Moore anda entre essas e as .009.
Depois, pensem numa coisa: estão em palco, e a última coisa que querem é que uma corda parta a meio de um solo, ou que a afinação seja mais instável. Essas são as razões que levam muitos guitarristas a usar conjuntos mais pesados (.010 e acima) em palco, mesmo que em estúdio usem mais leves.
Outro factor a considerar é a extensão da escala da guitarra. As Fender têm uma maior distância da ponte à cabeça, em relação a modelos como as Les Paul. Isto faz com que o mesmo calibre exerça uma tensão diferente, em cada um destes modelos: na escala curta, menor tensão; na escala maior, mais tensão. Se calhar é por isso que vemos tantos guitarristas Fender a usar .009 e .010, e o Slash a usar .011, sem perder uma pinta de expressão.
E, voltamos a lembrar, isto é principalmente para guitarras elétricas, porque nas acústicas a escala é diferente: um conjunto .011 pode ser pesada para uma elétrica mas leve demais para uma acústica.
As alterações de calibre de cordas em qualquer guitarra podem levar a que seja necessário fazer um novo setup ou ajustamento do braço, seja de um calibre mais pesado para um mais leve ou vice versa. Se calhar aquela guitarra que está lá empanada a um canto só precisa de um ajustezinho e de cordas novas.
Técnica, som, Física. Quem vos disse que tocar guitarra não era complicado estava bem enganado.
Neste vídeo, o Rob Scallon explica todas as diferenças a partir da sua experiência pessoal.
O ideal é experimentar várias medidas, e ver que conjunto se melhor adequa à vossa técnica, estilo e guitarra. Aqui no Salão Musical de Lisboa temos cordas de todos os calibres para guitarristas de grande calibre, como vocês.
Fonte: https://www.salaomusical.com